O cerco de Leningrado

O cerco de Leningrado

 

Luta na Rússia

 

A Luta em Leningrado e na Criméia

            

O Cerco de Leningrado

O Cerco de Demiansk e Cholm

Luta na Criméia

O Caso Sponeck

 

 

Enquanto as unidades do Grupo de Exércitos Centro do Marechal von Bock sustentava diante de Moscou o combate decisivo contra os exércitos soviéticos que defendiam a capital, ao norte, as forças alemães completavam o cerco de Leningrado. Em torno desta cidade iriam travar-se durante longos meses, ininterruptas e sangrentas batalhas.

 

Desde o começo da invasão da Rússia, a 22 de junho de 1941, o Grupo de Exércitos Norte, comandado pelo Marechal Ritter von Leeb, havia conseguido avançar rapidamente, através dos países bálticos, em direção a Leningrado. Suas forças eram formadas por dois exércitos de infantaria, o 18o do General von Kuchler, e o 16o, do General Busch, e ainda o 4o Grupamento Panzer do General Hoeppner. Em 14 de julho, as unidades alemães de vanguarda estabeleceram uma cabeça-de-ponte na margem norte do rio Luga, a 250 km ao sul de Leningrado. A notícia da proximidade dos alemães causou uma terrível consternação na cidade. Rapidamente, o Marechal Voroshilov, encarregado de sua defesa, ordenou a mobilização de milhares de homens e mulheres para construir fortificações que bloqueassem o avanço da Wehrmacht.

 

Respondendo ao apelo, mais de um milhão de civis trabalharam febrilmente, escavando fossos antitanques e construindo trincheiras e redutos. Ao todo, os habitantes da cidade conseguiram escavar 640 km de fossos antitanques, 30.000 km de trincheiras, levantaram 380 km de barreiras e obstáculos, e construíram 5.000 redutos de madeira e concreto. Simultaneamente, milhares de operários se ofereceram como voluntários, para reforçar as divisões do Exército Vermelho. A princípio, Voroshilov tentou formar com eles 15 divisões de milicianos, porém a escassez de armas e instrutores reduziu essa força a 3 divisões. Essas unidades foram rapidamente enviadas à linha defensiva do rio Luga, e se somaram às três divisões de infantaria que combatiam ali contra as forças de von Leeb.

 

 

O cerco se fecha

 

Em princípios de agosto, os alemães redobraram seus ataques sobre o Luga e conseguiram quebrar a desesperada resistência dos soldados e milicianos soviéticos. Movimentando-se velozmente, ocuparam a 21 de agosto a localidade de Tschudevo, a sudeste de Leningrado, e cortaram a via férrea que une esta cidade com Moscou. Prosseguiram, depois, o avanço para o norte e, após encarniçados combates, conquistaram a cidade de Mga, cortando a última comunicação ferroviária que unia Leningrado com o resto da Rússia.

 

A penetração irresistível das forças de von Leeb ameaçava já envolver completamente Leningrado. Lutando furiosamente, os russos tentaram em vão impedir que os alemães fechassem suas garras sobre a cidade. A 8 de setembro, caiu Schlussleburg, cidade situada a leste de Leningrado, na margem sul do lago Ladoga. O cerco estava fechado! Pelo oeste as unidades do 18o Exército, de von Kuchler, continuaram também sua penetração e atacaram as defesas soviéticas, localizadas a menos de 30 km de Leningrado. Os soviéticos, contudo, conseguiram reter uma cabeça-de-ponte na península de Oranienbaum. Para completar o desastre, os finlandeses irromperam pelo istmo de Carélia e suas linhas avançadas chegaram até 40 km ao norte de Leningrado. No interior da cidade ficaram praticamente aprisionados 3 milhões de pessoas.

 

Foi nesse momento que Hitler interveio e ordenou que se retirasse dessa frente de combate o 4o Grupamento Panzer, para ser empregado na ofensiva contra Moscou. A 25 de setembro, os tanques abandonaram o campo de batalha, o que impediu a von Leeb prosseguir com o mesmo ímpeto seu avanço sobre Leningrado. Quatro dias depois, o Fuhrer enviou uma terrível determinação: a cidade não deveria ser tomada mediante um ataque direto. Teria, simplesmente, que ser submetida a um apertado sítio, e ser arrasada aos poucos, com o fogo da artilharia e os bombardeios aéreos...

 

- Qualquer pedido de capitulação deve ser rechaçado - ordenava Hitler - pois o problema da alimentação e da sobrevivência da sua população, não pode, nem deve, ser resolvido por nós!...

 

Assim começou a tragédia de Leningrado. Poucas cidades, em toda a guerra, sofreriam um destino mais cruel e espantoso.

 

O sítio

 

A 4 de setembro caíram sobre Leningrado os primeiros projéteis da artilharia alemã. Simultaneamente, a Luftwaffe iniciou um implacável bombardeio que alcançou uma violência extrema nos dias 8, 9 e 10 de setembro. Por todos os bairros proliferaram incêndios e milhares de edifícios ficaram reduzidos a escombros calcinados.

 

As bombas destruíram, além disso, um dos mais importantes depósitos de víveres da cidade. O espectro da fome abateu-se, então, sobre o infelizes habitantes. Logo, milhares de pessoas haveriam de sucumbir, vítimas da inanição.

 

Ao sul, na linha defensiva que corria a poucos quilômetros do rio Neva, os milicianos e soldados combatiam desesperadamente contra as unidades de infantaria alemã. Voroshilov, convencido de que a luta, praticamente havia chegado ao fim, propôs-se a travar a última batalha, no interior da cidade. Com tal finalidade, semearam-se minas e explosivos em todas as fábricas, pontes e edifícios, para fazê-los voas pelos ares e converter Leningrado numa gigantesca massa de escombros. Cerca de 10.000 soldados e 75.000 civis, trabalharam dia e noite, erigindo redutos e pontos fortificados. Em poucas semanas, Leningrado transformou-se numa imensa fortaleza: 17.000 redutos foram instalados no interior de casas e construíram-se 4.000 casamatas nas ruas e avenidas.

 

Stalin, no entanto, estava resolvido a impedir que os alemães penetrassem em Leningrado. A 11 de setembro, enviou à cidade o General Zhukov, com a missão de reorganizar as defesas. Esse comandante atuou com extrema energia e conseguiu, em poucos dias, consolidar a frente em torno de Leningrado. O perigo de uma súbita invasão alemã foi momentaneamente afastado, porém permaneceu, agudo, o problema do abastecimento de víveres para a população. Somente restava um meio de comunicação com o resto da Rússia, o lago Ladoga. Numerosas embarcações tentaram cruzar suas águas, a fim de buscar alimentos, combustível e munições, porém sofreram grandes baixas sob os incessantes ataques da Luftwaffe. Durante um mês inteiro, por essa via, somente conseguiram trazer a Leningrado 9.800 toneladas de combustível, provisão que poderia sustentar a população por apenas 8 dias.

 

A situação tornava-se cada vez mais crítica. Faltava pouco para que se formassem os primeiros gelos sobre o Ladoga, fato que impediria por completo a passagem de qualquer embarcação. Num supremo esforço, lanchas e barcos conduziram, desafiando as bombas dos Stukas, aproximadamente 12.000 toneladas de farinha e 2.000 de carne, entre fins de outubro e início de novembro. Essas provisões, contudo, constituíam apenas uma reduzida fração das necessidades. Finalmente, a 15 de novembro, o lago deixou de ser navegável. A partir desse momento e até que o gelo alcançasse uma espessura suficiente, Leningrado somente podia ser abastecida por via aérea. Na cidade, muita gente começou a morrer de fome. No dia 20, as autoridades ordenaram uma redução drástica nas rações, o que provocou um acelerado incremento na mortalidade.

 

Somente no mês de novembro pereceram de fome 11.000 pessoas. Em dezembro, morreram outras 52.000 (cifra que equivalia à mortalidade normal de um ano inteiro). A escassez de víveres, cada vez mais acentuada, obrigou as autoridades a recorrer a medidas desesperadas. Perto de 35.000 pessoas foram evacuadas de avião e no dia 6 de dezembro, permitiu-se, a que quisesse, abandonar a cidade, pela superfície gelada do Ladoga. Milhares de pessoas empreenderam a pé a espantosa travessia, e muitos morreram antes de alcançar a outra margem.

 

Os alemães ocupam Tichvin

 

Seguindo as autoritárias ordens de Hitler, o Grupo de Exércitos Norte avançou para leste com a intenção de ocupar toda a costa sul do lago Ladoga, para cortar o último acesso a Leningrado. O ataque começou a 16 de outubro e encontrou furiosa resistência dos soviéticos. Avançando penosamente pelos caminhos cobertos de lama e gelo, as tropas alemães ocuparam, a 8 de novembro, a localidade de Tichvin, pela qual passava a estrada de ferro que, vinda do oeste, desembocava na costa do Ladoga.

 

A perda desta via férrea interrompeu por completo o envio de suprimentos até Leningrado. Nessa dramática circunstância, os russos apelaram para uma solução extrema. Trabalhando febrilmente abriram, ao norte de Tchvin, através de imensos e impenetráveis bosques, um estreito e rudimentar caminho de quase 400 km de extensão, até as margens do Ladoga. A 6 de dezembro, a improvisada estrada foi completada e, através dela, puderam passar, em corrente ininterrupta, milhares de caminhões carregados de provisões. Logo, no entanto, surgiram dificuldades praticamente insolúveis. O caminho não suportou o trânsito intenso e se converteu numa verdadeira armadilha de lama e neve (em 3 dias apenas ficaram atolados 340 caminhões).

 

A salvação, porém, não tardou a chegar. A partir de 6 de dezembro, os exércitos russos iniciaram um contra-ataque geral, em todo o país. Em frente de Moscou a Wehrmacht foi detida e derrotada. No norte, tropas soviéticas, sob o comando do General Meretskov se lançaram num ataque contra Tichvin e, a 9 de dezembro, conseguiram ocupar a cidade, desalojando os alemães da estrada de ferro. Diante da violenta investida dos russos, o Marechal von Leeb solicitou a Hitler autorização para efetuar uma retirada de todas as suas forças para o oeste. O Fuhrer, finalmente, autorizou o recuo, com a condição de que a estrada de ferro de Tichvin ficasse ao alcance da artilharia alemã.

 

As intenções de Hitler não puderam cumprir-se, pois os russos continuaram pressionando em toda a frente de batalha e tomaram várias posições alemães. Ante a ameaça que pairava sobre suas forças, von Leeb reclamou desesperadamente que se autorizasse uma nova retirada. Entre 19 e 25 de dezembro as unidades dos 16o e 18oexércitos alemães abandonaram o terreno, conquistado à custa de terríveis perdas, e estabeleceram uma nova linha defensiva sobre a margem esquerda do rio Volkhov, a sudeste de Leningrado. A cidade continuava bloqueada por terra, porém a saída do lago Ladoga estava novamente aberta. A salvação estava assegurada.

 

A contra-ofensiva soviética

 

Somente a 1o de janeiro de 1942 os russos conseguiram reconstituir a linha férrea até o Ladoga, que os alemães haviam destruído na sua retirada. Imediatamente, reativaram-se os envios de provisões para a cidade, movimentando-se milhares de caminhões sobre as estradas abertas na superfície gelada do lago. A interrupção no abastecimento trouxe, contudo, trágicos resultados: entre dezembro e janeiro morreram mais 200.000 pessoas de inanição (a cifra final de vítimas durante o sítio subiu a 632.000 pessoas). A 22 de janeiro, as autoridades resolveram iniciar a evacuação maciça do povo sobrevivente. A operação foi realizada, sem interrupção, até o final de 1942, evacuando-se mais ou menos um milhão de pessoas. Desta forma, a situação da cidade foi melhorando progressivamente. Estendeu-se, além disso, sob as águas do Ladoga, um oleoduto e um cabo de transmissão de energia elétrica, o que permitiu movimentar novamente os transportes públicos, e reativar, parcialmente, a atividade das fábricas. Enquanto isso acontecia em Leningrado, os exércitos russos prosseguiam seus ataques contra as forças de von Leeb. Este chefe tinha, distribuídas numa frente de cerca de 600 km de extensão, as unidades de seus dois exércitos de infantaria, o 18o e o 16o, integrados por 31 divisões (uma delas era a divisão Azul, de voluntários espanhóis). A maior parte dessas formações achava-se completamente esgotada pela luta incessante, e carecia de unidades blindadas e suficiente artilharia. Contra elas os russos lançaram 75 divisões apoiadas por poderosos grupamentos de tanques.

 

No dia 8 de janeiro de 1942, três exércitos russos atacaram as posições do 16o Exército alemão, ao sul do lago Ilmen, setor em que os alemães só dispunham de 6 divisões de infantaria. Avançando velozmente pelo terreno coberto de neve, as forças soviéticas surgiram nas linhas de retaguarda e ameaçaram cercar completamente as unidades alemães localizadas em torno da cidade de Demiansk. No dia 12, o Marechal von Leeb solicitou a Hitler que autorizasse o recuo imediato das tropas para impedir que fossem dizimadas pelos russos. Hitler, porém, negou-se redondamente a permitir a retirada, e ordenou que as divisões se mantivessem em suas posições. Von Leeb, totalmente desprestigiado, solicitou então sua dispensa e foi substituído no comando pelo General von Kuchler.

 

Hitler estava convencido que a resistência, dentro do cerco, permitiria às formações do 16o Exército aniquilar uma importante massa das forças russas, que, de outro modo, prosseguiriam o seu avanço e desarticulariam totalmente a frente. A 8 de fevereiro fecharam-se as garras sobre as seis divisões entrincheiradas em Demiansk. Perto de 95.000 soldados ficaram imobilizados. Por ordem do Fuhrer, tentou-se abastecê-los por via aérea, porém a Luftwaffe somente pôde entregar uma mínima fração dos suprimentos necessários. Apesar disso, as tropas cercadas conseguiram, combatendo tenazmente, rechaçar todos os ataques soviéticos.

 

Os alemães detêm o ataque

 

Enquanto esses violentos combates eram travados em torno de Demiansk, as restantes unidades do 16o Exército levantaram uma nova frente defensiva, com muita dificuldade, mais para o oeste, na localidade de Staraja Russa. Com uma divisão de reforço, transportada diretamente da zona de luta, e com tropas extraídas das unidades de abastecimento, se conseguiu finalmente conter o avanço russo. Mais ao sul, na localidade de Cholm, 3.500 soldados alemães foram cercados, a 22 de janeiro, pelo 3o Exército de Choque soviético. Essa guarnição teve também que ser abastecida pelo ar, passando por terríveis dificuldades. Sob a pressão incessante dos exércitos russos, toda a frente norte alemã ameaçava desmoronar-se. Combatendo em meio a violentas tempestades de neve, à temperaturas inferiores a 30 graus negativos, as dizimadas unidades da Wehrmacht, desprovidas de vestuário para o inverno e de armamento suficiente, defendiam o terreno palmo a palmo. Ao sul de Leningrado, o General Meretskov desfechou um terrível ataque contra o ponto de contato entre os 18o e 16o Exércitos alemães. As tropas do 2o Exército de Choque soviético, comandadas pelo General Vlassov, irromperam através das posições alemães e conseguiram abrir uma brecha de mais de 15 km de extensão. Por ela se precipitaram, como uma torrente, seis divisões de infantaria, três divisões de cavalaria, oito brigadas de esquiadores, e duas brigadas de tanques. Empregando até o último soldado disponível, os alemães conseguiram paralisar, à custa de sangrentas perdas, a investida de Vlassov. A luta continuou, sem interrupção, em torno da cunha aberta pelos soviéticos. Mais para o norte, outro exército russo, o 54o, tentou estabelecer contato com as unidades do 2o Exército de Choque, mas foi rechaçado. A 15 de março, von Kuchler ordenou que o 18o Exército lançasse um contra-ataque geral para eliminar a ameaça de extermínio. Apoiados por 250 aviões de bombardeio e caças, os infantes alemães conseguiram cercar, pela retaguarda, as forças de Vlassov. Depois de encarniçadas lutas que se prolongaram desde fins de maio até 28 de junho de 1942, o 18oExército de von Lindemann conseguiu aniquilar completamente o 2o Exército de Choque soviético. Vlassov caiu prisioneiro, e com ele 32.000 de seus soldados. Os alemães, além disso, conseguiram apoderar-se de 649 canhões, 170 tanques, e 2.000 caminhões.

 

Ao sul, o 16o Exército, do General Busch, conseguiu também reconstruir a frente e resgatar as divisões cercadas em Demiansk e Cholm. Ficou assim proteladas a situação crítica que, durante seis meses, tiveram de enfrentar as forças alemães sediadas em torno de Leningrado. Apesar dos seus desesperados esforços, os exércitos soviéticos não haviam conseguido levantar o sítio à cidade.

 

Primeiro assalto a Sebastopol

 

No extremo sul da Rússia, a Wehrmacht obteve, no mesmo período, novas vitórias. Depois de completar a sua penetração na península da Criméia, o 11o Exército, do General von Manstein, iniciou, a 17 de dezembro de 1941, o ataque contra a fortaleza de Sebastopol. A chegada do inverno havia dificultado muito o preparo e a concentração das unidade alemães e romenas, em torno da fortificação. O assalto, planejado para fins de outubro, teve, portanto, que ser adiado durante quase dois meses. Aproveitando a pausa, os soviéticos reforçaram a guarnição por mar.

 

A fortaleza de Sebastopol, comandada pelo Almirante Oktiabrski e pelo general Petrov dispunha de uma força de 54.000 homens, dos quais 21.000 eram marinheiros da frota do mar Negro. Suas defesas compreendia, um extenso perímetro exterior de 20 km de extensão, representado por 3 linhas sucessivas de fortes, campos minados, fossas antitanques, trincheiras e casamatas. Na cidade e nas grandes cavernas dos montes adjacentes se haviam instalado refúgios e fábricas subterrâneas. Durante o sítio, foram essas fábricas que abasteceram a guarnição de armas e munições (somente entre os meses de novembro e dezembro produziram 400 morteiros, 20.000 granadas de mão, 32.000 minas e consertaram centenas de canhões, metralhadoras e, até mesmo, tanques). A empresa que o General von Manstein teve que enfrentar foi sumamente difícil. Com apenas 7 divisões de infantaria alemães - não contava com forças blindadas - e 3 brigadas romenas, teria que invadir as poderosas fortificações de Sebastopol e, ao mesmo tempo, defender as extensas costas da Criméia, prevendo um possível desembarque de surpresa nas suas costas. Manstein, numa deliberação audaciosa, decidiu concentrar quase a totalidade de suas forças no ataque a Sebastopol, a fim de conquistar rapidamente essa praça de guerra, embora correndo o risco de deixar praticamente desguarnecida a linha do litoral.

 

Dispôs, portanto, suas unidades em duas massas de ataque. Pelo norte, com a missão de realizar o assalto principal, enviou o 54o Corpo de Exército, com quatro divisões de infantaria. Ao sul, com a incumbência de lançar um ataque de dispersão, destacou o 30o Corpo de Exército, duas divisões de infantaria, e uma brigada de montanha romena. No extremo oriental da Criméia, na península de Kertsch, localizou a 46a Divisão de Infantaria, sob o comando o General Conde de Sponeck, para bloquear um possível desembarque soviético. Outras duas brigadas romenas tratarão de defender o litoral e hostilizar os guerrilheiros soviéticos que operavam no maciço montanhoso de Jaila, a leste de Sebastopol.

 

A 17 de dezembro, e depois de uma preparação extremamente violenta de artilharia, começou o ataque contra Sebastopol. O peso da luta no setor norte recaiu sobre a 22a Divisão de Infantaria, comandada pelo General Wolff. Avançando através do estreito e perigoso vale do rio Belbek, seus soldados encontraram uma encarniçada resistência soviética e sofreram pesadas baixas. Depois de seis dias de incessantes combates, um de seus regimentos, comandado pelo Coronel von Choltitz, alcançou a estrada principal que corre para o sul, em direção de Sebastopol. Os russos, ante a ameaça de se verem cercados, abandonaram o vale e recuaram até as linhas fortificadas.

 

Von Manstein ordenou, então, às suas cansadas unidades, que redobrassem o esforço e continuassem o ataque. Um após outro, os batalhões de infantes e sapadores alemães se lançam ao ataque e caem, vitimados pelo fogo mortífero dos redutos e casamatas dos soviéticos. As perdas crescem com ritmo aterrador, porém o avanço prossegue. Na noite de 24 de dezembro, os alemães de detêm. Desolados, os oficiais passam em revista suas tropas e comprovam que ficaram reduzidas a umas poucas dezenas de homens extenuados. A heróica resistência dos russos, uma vez mais, frutificara.

 

Apesar do desastroso estado de suas forças, Manstein resolve realizar uma última investida. Sabe que o tempo conspira contra ele, pois os soviéticos se preparam já para desembarcar de surpresa poderosos exércitos na costa Oriental da Criméia. A 25 de dezembro, dia de Natal, a luta se reacende. Apoiada por alguns canhões, a 22a Divisão de Infantaria arroja-se ao assalto contra o forte Stalin, cujas baterias bloqueiam o avanço para Sebastopol. Nas proximidades desse reduto trava-se uma furiosa batalha, que se prolonga até a noite de 31 de dezembro. É o último esforço, pois os soviéticos iniciaram já seus desembarques na península de Kertsch, no extremo leste da Criméia.

 

Combatendo encarniçadamente, os soldados do regimento 16 de infantaria de von Choltitz abrem passagem através dos alambrados e conseguem situar-se a 70 metros de distância do forte Stalin. A meta, praticamente, já está alcançada. Nesse preciso momento, chega a ordem de abandonar o terreno conquistado. No dia seguinte, 1o de janeiro de 1942, os alemães se retiram deixando o campo de batalha coberto com os corpos de centenas de seus camaradas. O terrível sacrifício foi totalmente em vão.

 

Desembarque soviético

 

A 26 de dezembro, duas divisões russas desembarcaram na península de Kertsch. Ali se encontrava apenas uma divisão de infantaria alemã. Seu chefe, o General Sponeck, solicitou imediatamente autorização para recuar para o oeste, ocupando uma posição fortificada na garganta que dava acesso à península. Manstein, contudo não cedeu ao pedido e ordenou a Sponeck realizar um contra-ataque. Simultaneamente, determinou que as forças alemães efetuassem um último ataque contra Sebastopol. Acreditava ainda possível ocupar a praça de guerra antes que os russos desembarcassem novas forças.

 

A 29 de dezembro, os soviéticos deixaram em terra, em frente ao porto de Feodósia, poderosos contingentes, situando-os à retaguarda das unidades do General Sponeck. Este decidiu abandonar imediatamente a península de Kertsch para evitar ficar cercado. Esta decisão lhe custou a carreira e posteriormente a vida (destituído por ordem de Von Manstein, foi imediatamente submetido por Hitler a um Conselho de Guerra e condenado à morte, pena comutada para prisão perpétua. Depois do atentado contra o Fuhrer, em julho de 1944, foi fuzilado).

 

Diante da gravidade da situação, Manstein determinou, a 31 de dezembro, desistir do ataque a Sebastopol e enviou rapidamente parte de suas forças para Kertsch e Feodósia. Os soviéticos, contudo, atuaram com demasiada cautela, e não souberam aproveitar a situação favorável, o que permitiu aos alemães estabelecer uma frente defensiva. No dia 5 de janeiro, novas unidades vermelhas desembarcaram no porto de Eupatória, a nordeste de Sebastopol, e receberam apoio dos guerrilheiros e da população civil. O exército alemão na Criméia corria agora o risco e ficar cercado de ambos os lados.

 

Manstein atuou sem vacilação. Enviou um regimento motorizado a Eupatória, o qual, depois de encarniçados combates, conseguir apoderar-se da cidade. Em seguida determinou que três divisões alemães e uma romena marchassem para o oeste, sobre Feodósia. Lutando furiosamente, os soldados alemães e romenos conseguiram arrasar a resistência dos russos e, a 18 de janeiro, ocuparam o porto. Caíram em suas mãos, 10.000 prisioneiros, 177 canhões e 85 tanques.

 

Faltava ainda desalojar as forças russas localizadas na península de Kertsch. Manstein, contudo, teve que renunciar a essa operação, pois carecia de efetivos e unidades blindadas suficientes para abrir passagem através das posições fortificadas russas. Por essa razão, preferiu realizar uma série de ataques determinados, conseguindo confinar os russos, afinal, no extremo oriental da península, de onde pretendia desalojá-los assim que recebesse os reforços pedidos ao Alto-Comando.

 

Assim terminou o fracassado contra-ataque soviético na Criméia. Stalin, no entanto, não se conformou com a derrota, e ordenou que fosse organizada, sem tardar, uma nova ofensiva. Sebastopol precisava ser salva a qualquer preço!

 

O “Caso Sponeck”

 

A evacuação da península de Kertsch, anteriormente citada, deu lugar a medidas do Alto-Comando alemão que foram, posteriormente discutidas e mesmo desaprovadas pelos altos chefes alemães (von Manstein entre eles).

 

O Marechal-de-Campo von Reichenau determinou, como primeira medida, que a 46a Divisão de Infantaria ficaria inabilitada de receber qualquer condecoração. Essa disposição foi, depois, criticada, pois atingia homens que haviam-se limitado a receber a ordens de seus superiores, sem serem portanto, responsáveis. Posteriormente, mediante a intervenção de von Manstein, tal disposição foi revogada; efetivou-se a anulação da ordem depois do falecimento de von Reichenau, que desapareceu pouco tempo depois. No entanto, a infamante disposição nem chegou ao conhecimento do comandante da divisão, Tenente-General Himer, que havia perecido pouco antes.

 

O General Sponeck, por sua vez, expressou o desejo de defender sua posição. E, efetivamente, realizou-se um conselho de guerra; conselho que já havia sido convocado pelo próprio Hitler, com o objetivo de julgar a atitude de Sponeck.

 

O conselho de guerra se efetuou no QG do Fuhrer e Goering atuou na presidência. Após rápido pronunciamento, o General Sponeck foi condenado à pena máxima. Posteriormente, essa pena foi comutada para prisão perpétua.

 

Disse Manstein a respeito, que um conselho de guerra formado por comandantes com experiência de frente de combate jamais teria pronunciado tal sentença. No pior dos casos, devia-se reconhecer, em abono de Sponeck, a boa fé de ter suposto que a sua solução era a mais oportuna. Se a este fato se agregassem os seus antecedentes, méritos e serviços, Sponeck sem dúvida teria merecido uma pena consideravelmente menor.

 

O caso Sponeck mostra claramente o trágico conflito entre o dever inelutável da obediência, e o critério individual acerca das necessidades operacionais a que pode ser levado um chefe militar em campanha.

 

Anexo

 

“Tudo continua”

- Fazem dois meses que os alemães cruzaram a fronteira. Alguns dizem que será um milagre detê-los agora. A mim e aos meus colegas do Banco, nos mandaram ajudar a construir as obras de defesa antitanque, e Elizaveta (minha mulher) foi comigo. Esse trabalho de cavar fossas profundas e depois cobri-las com troncos é duro; porém ela, de excelente humor, sente-se muito feliz fazendo esse trabalho. “A sirene de alarme está uivando outra vez, como uivava um cão quando alguém está agonizando. Com este completamos uma dúzia de ataques recebidos hoje. Os canhões antiaéreos ressoam. Nesse momento escuto o silvo de uma bomba caindo, no espaço. Houve um baque surdo, uma explosão, e o costumeiro estalar dos vidros. Bom, até agora, Elizaveta e eu escapamos ilesos. “Leningrado está frio e escuro. Não há combustível, não há luz, não há água. Temos que carregar água em baldes, tirando-a de buracos abertos no rio Neva. Apesar disso, no banco tudo continua quase como antes da guerra.

“Os livros dizem que o homem necessita de gorduras, proteínas e vitaminas para poder sobreviver... Em Leningrado, recebemos 142 gr de pão e 2 copos de água quente por dia”.

 

 

Evacuação da Indústria

Quando a 22 de junho de 1941 as tropas da Wehrmacht invadiram, de surpresa, o território da URSS, a reação do Exército Vermelho, que não esperava aquela investida, se bem que firme e decida, careceu de efetividade. Os exércitos alemães, superando a encarniçada resistência russa, penetraram profundamente no território soviético. Em conseqüência, colocados diante da realidade trágica de uma catástrofe, e decididos a lutar até o último homem, os dirigentes russos procuraram um plano capaz de salvar da destruição o parque fabril da Rússia européia. Esse plano previu e executou o que era aparentemente impossível: a mudança de toda a indústria pesada, através de milhares de quilômetros, e sua montagem posterior em zonas muito distanciadas da frente de combate. Essa decisão teve enorme influência no posterior desenrolar dos acontecimentos bélicos, pois impediu que os alemães se apoderassem dos principais centros de produção de armamentos. Transportados para os Urais, a Sibéria, e para a região do Volga, as fábricas retomaram rapidamente as suas atividade, e alimentaram o Exército Vermelho de aviões, tanques e caminhões, em quantidades sempre crescentes. O esforço que tal operação exigiu foi gigantesco e constituiu um dos episódios mais incríveis da guerra.

A operação foi iniciada a 2 de julho de 1941, com a mudança da fábrica de blindagens de Mariupol, ao sul da Ucrânia, para o centro industrial de Magnitogorsk, nos Urais. No dia seguinte, ordenou-se o transporte de 26 fábricas de armamentos de Leningrado, Moscou e Tula. Na mesma semana, começou-se também o transporte da fábrica de motores Diesel Kirov, de Leningrado, e da fábrica de tratores de Karkov. Outra grande indústria que produzia motores de tanques na mesma cidade, foi transportada para Chelyabinsk, nos Urais. Em Gorki, a leste de Moscou, uma fábrica de automóveis foi transformada para a produção de motores de tanques. Essas decisões assentaram as bases do grande centro produtor de tanques, no Volga e nos Urais.

A 7 de agosto, determinou-se evacuar e transportar a gigantesca usina produtora de aço de Diniepropetrovsk, na Ucrânia. Seu destino seria a região dos Urais. Depois de desmontada, transportada e montada novamente, a usina começou a produzir a 24 de novembro, quatro meses e meio depois de estar completamente desmontada.

As usinas produtoras de aço de Zaporozhstal, na Ucrânia Oriental, foram também transportadas para os Urais. Neste caso, a amplitude do esforço realizado pode ser avaliado pela quantidade de vagões de estrada de ferro empregados para mudar as 50.000 toneladas de equipamento: 8.000 vagões.

A evacuação das indústrias de Moscou iniciou-se a 10 de outubro, quando os alemães se encontravam já a poucos quilômetros. Um mês e meio mais tarde, até fins de novembro, haviam sido transportadas 498 fábricas e 210.000 operários. Aproximadamente 70.000 vagões de estrada de ferro foram utilizados na incrível operação.

Ao todo, entre julho e novembro de 1941, foram evacuadas 1.503 fábricas, no leste (226 para a região do Volga, 667 para os Urais, 224 para a Sibéria Ocidental, 78 para a Sibéria Oriental, e 308 para Kazakh e Ásia Central). A carga transportada era de 1 milhão e 500 mil vagões de estrada de ferro.

A magnitude do esforço realizado supera tudo o imaginado. A razão se nega a admitir que milhares de toneladas de material possam ser transportadas a milhares de quilômetros de distância, nesse brevíssimo espaço de tempo. A realidade, no entanto, demonstra que tal façanha foi possível.

Jamais, na História, se produziu uma evacuação de tal importância.

 

 

A alimentação em Leningrado

As reservas de alimentos com que contavam os 3 milhões de habitantes de Leningrado, para poder resistir ao bloqueio e ao assédio constante da Wehrmacht, chegavam, a 12 de setembro de 1941, às seguintes quantidades: farinha para 35 dias; massas para 30 dias; carne para 33 dias; gorduras para 45 dias e açúcar para 60 dias.

As rações de açúcar (A) e gorduras (G), mensais, eram as seguintes: Operários 2 kg de A e 1 kg de G; Comerciários: 1 ½ de A e ½ de G; Crianças (até 12 anos) idem aos comerciários.

Durante o mês de novembro de 1941, a situação calamitosa pode ser deduzida da seguinte tabela de racionamento: carne (C) açúcar (A) gorduras (G) - Operários: 49 g/dia de C, 49 g/dia de A e 18 g/dia de G; Comerciários: 14 g/dia de C, 28 g/dia de A e 7 g/dia de G; Crianças: 14 g/dia de C, 38 g/dia de A e 15 g/dia de G.

No mesmo mês de novembro de 1941, cada ração tinha o seguinte número de calorias: Operários 1087 - Comerciários 466 - Crianças 684.

 

 

Cenas da tragédia

A falta de alimentos, provocada pelo bloqueio alemão, motivou na cidade de Leningrado episódios que superam a mais ardente fantasia. A cidade contava com uma população de 3 milhões de habitantes. O bombardeio da Luftwaffe e da artilharia alemã era constante. Cabe aqui relembrar que Hitler pessoalmente, havia ordenado não tomar a cidade, mas arrasá-la com bombardeios maciços e impedir a saída de seus habitantes, até a sua total extinção, por meio da fome. A temperatura, baixíssima, matava centenas de pessoas, diariamente. As enfermidade tornavam-se impossíveis de tratar, por falta de medicamentos. Porém existia uma coisa que superava em horror aos bombardeios, às doenças, ao frio: a fome.

Os habitantes de Leningrado, decididos a resistir até o fim, racionaram seus alimentos até extremos inverossímeis. Posteriormente, diante da situação insustentável, homens, mulheres e crianças perseguiram e sacrificaram todos os animais da cidade; cavalos, cachorros, gatos e ratos permitiram aos homens de Leningrado continuar empunhando suas armas. Por fim, eliminados os animais, a população lançou mão de qualquer elemento que pudesse ser comido ou bebido: produtos medicinais não essenciais, como o azeite de castor, a glicerina, a vaselina e as loções capilares, tudo foi convertido em alimento. As sopas eram preparadas com cola de carpinteiro, obtida raspando-se os móveis, depois de desmanchá-los, ou raspando-se as paredes, depois de arrancados os papéis que as cobriam. Porém nem todos possuíam elementos que pudessem extrair algo que lhes permitissem subsistir alguns dias a mais. Muitos caíam mortos nas ruas, nos escritórios, nas trincheiras, ou em suas casas, onde se deitavam para não mais despertar. Nas fábricas, que mantiveram o ritmo de produção durante todo o assédio, os operários caíam mortos junto às máquinas. Outros, a maior parte, permaneciam nas ruas até que alguma patrulha recolhesse seus restos para transportá-los ao cemitério. Não existia nenhum tipo de transporte dentro da cidade, e os cadáveres deviam ser conduzidos em trenós puxados pelos familiares ou por soldados. A falta de ataúdes fez com que milhares de cadáveres permanecessem nos arredores dos cemitérios, envoltos por simples lençóis. Seu destino era a fossa comum. Para conseguir lenha, elemento vital para a população, formavam-se patrulhas integradas geralmente por mulheres e crianças, que partiam para os bosques vizinhos, desprovidos de roupas adequadas e calçados, muitas vezes com simples sandálias, a uma temperatura de 30 graus negativos.

Um dos funcionários superiores da fábrica Kirov, descreveu a um jornalista inglês, tempos depois, alguns episódios significativos:

- Lembrar-me-ei para sempre de como eu andava, todos os dias, penosamente, para a fábrica, situada a dois ou três quilômetros. Caminhava um trecho curto e logo me detinha para descansar. Muitas vezes vi homens tombarem repentinamente sobre a neve. Nada havia que se pudesse fazer. E continuávamos andando... Depois, mais tarde, quando voltava, distinguia uma tosca forma humana, coberta de neve, naquele lugar em que havia visto tombar o homem. Não nos perturbava mais... E o que adiantaria? Durante esse terrível inverno, creio que não vi ninguém rindo. E, apesar de tudo, a gente continuava firme, e os teatros funcionavam, e as escolas viam chegar crianças desfalecendo... Na fábrica Kirov ocorreram episódios tremendos. Muitos operários se apresentavam diariamente ao capataz e lhe diziam, com terrível tranqüilidade, que esperavam morrer daí a instantes. Muitos eram enviados a hospitais e ali morriam de fome, de esgotamento...

- A fábrica estava sob a metralha dos canhões alemães e os projéteis caíam em suas instalações. O trabalho, no entanto, continuava. A maioria dos operários, 70%, era mulheres e meninas adolescentes. Foram dias terríveis. A 15 de dezembro tudo parou. Não havia combustível, nem comida, numa água, nem transportes. A produção cessou em Leningrado. Permanecemos nessa situação até 1o de abril do ano seguinte. Apenas alguns suprimentos chegavam através do lago Ladoga. Mas não puderam impedir que milhares de pessoas morressem.

- Mesmo assim, ainda no pior período de fome, fazíamos o que podíamos...

 

 

SS (Schutzstaffeln)

As primeiras formações da SS (grupos de proteção) apareceram em Munique, em 9 de novembro de 1925, durante uma cerimônia em que Hitler discursou para seus adeptos. Tratava-se de grupos de homens uniformizados com camisas marrons e gravatas pretas. No braço esquerdo, como distintivo, usavam uma faixa com a cruz gamada. Essas formações eram integradas por elementos cegamente fiéis ao chefe do movimento e sua missão consistia em eliminar, pela força, toda resistência ao movimento.

Os homens da SS de 9 de novembro de 1925 eram os mesmos que, até aquele momento, haviam acompanhado Hitler nas suas andanças; uma só diferença se produziu na organização: a partir desse dia deixaram de ser um bando de guarda-costas para converter-se numa organização oficial do partido. Seu primeiro comandante foi o chofer de Hitler, Julius Schreck. Posteriormente, o comando passou para as mãos de Joseph Berchtold e depois, para Erhard Heiden. Foi a 6 de janeiro de 1929, que o último de seus chefes ocupou o comando. Tratava-se de Henrich Himmler.

Quando Adolf Hitler pôs nas mãos de Himmler a organização definitiva das SS, disse-lhe: - Quero uma nova organização, segura 100%, fiel até a morte! Himmler, imediatamente, pôs mãos à obra. Era 6 de janeiro de 1929. Nesse dia nasceu, definitivamente, a SS. No ano seguinte, a 2 de setembro de 1930, os membros da SS eram já 2.000 e quase um ano depois, 15 de junho de 1931, Hitler inaugurava em Munique a Reichsfuhrerschule para os soldados e oficiais do novo corpo.

No dia 7 de março de 1933, criou-se a SS - Leibstandarte Adolf Hitler, guarda pessoal de Hitler. O juramento que seus membros prestaram, a 9 de novembro desse mesmo ano, dizia textualmente: - A ti, Adolf Hitler, na qualidade de chefe, juro fidelidade e destemor. A ti e a todos os que designares como chefes, prometo obediência até a morte, e que tudo isto seja verdade, com a ajuda de Deus.

A respeito dos homens que integravam a corporação, disse Himmler: - Comecei exigindo uma determinada estatura... Ano após ano, as nossas exigências aumentarão... faremos o possível para obter, para a SS, o melhor sangue alemão do país... Um SS não podia casar-se, senão mediante autorização pessoal do chefe supremo da organização. Isso era determinado expressamente pelo boletim n° 65, de 31 de dezembro de 1931, que dizia: - O futuro de nosso país se fundamenta na seleção e conservação do sangue, do ponto de vista racial... a autorização para contrair matrimônio, depende da Seção Raça da SS, que possui o Registro da estirpe da SS.

Os primeiros regimentos formados foram os seguintes: No ano de 1933, o SS-Leibstantarde Adolf Hitler; em 1934, o SS-Standarte Deutschland, o SS-Standarte Germania, o SS-Pioniersturmbann e o SS-Junkerschule Bad Töolz (escola de aspirantes a oficiais); em 1935, o SS-Junkerschule Braunschweig (escola de aspirantes a oficiais) e o SS-Nachrichtensturmbann (batalhão de informações); em 1938, a Inspektion der SS-Verfügunsgstruppe (inspeção) e o SS-Standarte der Fuhrer; em 1939, o SS-Artilleriestandarte (regimento de artilharia), o SS-Heimwehr Danzig e algumas unidades sanitárias e de transporte.

Em 1941, quando Hitler decidiu invadir a Rússia, as SS se converteram em verdadeiras unidades de combate: as Waffen-SS. Os diversos regimentos se transformaram em divisões e chegaram, em 1944, a agrupar quase 1 milhão de homens, em 37 divisões.

 

 

Zhukov

Aconteça o que acontecer, o soldado é sempre mais valioso que eu. Não durmo nem descanso, até que meu exército esteja descansando e dormindo (Suborov).

Com a citação acima, num cabeçalho, Zhukov, uma ocasião, enviou uma lista de instruções a outros chefes sob seu comando. A citação, que podia ter sido sua, sintetizava uma vida dedicada a seus homens, aos eu exército, à sua organização.

O vencedor de Stalingrado nasceu no ano de 1895, em Strelkova, Rússia central. Filho de camponeses, desde cedo trabalhou exercendo diversos ofícios. Depois da Primeira Guerra Mundial, na qual prestou serviços como soldado raso, ingressou na cavalaria vermelha do novo exército russo. Rapidamente, sua inteligência o destacou para seus superiores, que o enviaram para a Academia de Frunze, onde, quieta e solidamente, adquiriu os conhecimentos que, depois, passo a passo, o permitiram escalar os mais altos postos da hierarquia militar da URSS. Visitou a Alemanha, onde fez cursos especializados; foi enviado à Espanha, durante a guerra de 1936-1939. Em maio de 1939, à frente de várias divisões blindadas, foi enviado à República Mongólica, atacada naquela época pelos japoneses. Teve ocasião de intervir ativamente no conflito e destruiu o 6o Exército japonês em Khalka Gol. No outono de 1941, quando os exércitos alemães se encontravam às portas de Moscou, Stalin transferiu Zhukov para o cargo de comandante das forças encarregadas de defender a capital moscovita. Zhukov pronunciou então a sua célebre ordem: - Nem um passo atrás! Que cada homem combata por dez!

Depois da heróica reconquista de Stalingrado, Zhukov foi enviado à frente de Leningrado e salvou a cidade. Pouco depois, foi nomeado Marechal da URSS, posto que não se concedera antes a nenhum general, no decurso da guerra.

A última fase da luta, o avanço sobre o território da Alemanha, permitiu a Zhukov demonstrar mais uma vez seis dotes de estrategista, e sua energia no comando. Com efeito, suas tropas avançaram, nos primeiros 18 dias de campanha, numa média de 25 a 30 km por dia, e as vanguardas firam lançadas através de 500 km de bosques e pântanos. Esse foi o avanço mais veloz da guerra, muito superior ao dos alemães, na Rússia, em 1941.

Infatigável leitor de Clausewitz, e grande autoridade nas campanhas de Aníbal, o Marechal Zhukov foi um artífice das vitórias soviéticas no decorrer da Segunda Guerra.

 

 

Wehrmacht

A organização minuciosa que caracterizou o exército alemão, foi um dos principais fatores que contribuíram para forjar suas vitórias, nos anos iniciais da guerra, e para prolongar sua resistência, no momento da derrota. Detalhamos a seguir alguns dados de interesse, sobre a organização da Wehrmacht.

Feridos - Ao abandonar os hospitais militares, os soldados feridos eram classificados da seguinte forma: 1. Aptos para a luta (destinados aos batalhões de substituição das unidades da frente de combate) 2. Aptos como combatentes, depois de um período determinado de convalescença. 3. Aptos para o serviço em unidades de retaguarda. 4. Licenciados temporariamente, em seus domicílios. 5. Não aptos para o serviço militar.

Cada soldado carregava uma placa de identificação no pescoço, dividida em duas metades, na qual estavam consignados os seguintes dados: nome e sobrenome, número de alistamento e o grupo sangüíneo. Quando o soldado morria, uma metade da placa ficava com o cadáver, e retirava-se a outra, para confeccionar as listas de baixas.

A experiência da luta permitiu estabelecer que, proporcionalmente as baixas de oficiais e suboficiais eram muito mais elevadas que as dos soldados. (4, 2 e 1 respectivamente). Em conseqüência disso, todas as grandes unidades da Wehrmacht (exércitos, grupos de exército) organizaram uma Reserva de oficiais superiores e chefes, integrada geralmente por oficiais feridos, que regressavam do combate e não podiam reincorpora-se logo às suas antigas unidades por já terem sido substituídos. Estes oficiais permaneciam na reserva e substituíam, uma vez chegado o momento, aos comandantes que perecessem na luta ou fossem gravemente feridos.

Uniformes - os franco-atiradores e guerrilheiros soviéticos se especializaram em atirar nos oficiais e suboficiais alemães, identificando-os pelos seus uniformes e suas botas de cavaleiros. Para dificultar a sua ação, os oficiais, suboficiais e soldados da Wehrmacht utilizaram no combate o mesmo uniforme camuflado, e o mesmo tipo de botas, capacetes e correagens. Os chefes, além disso, ocultavam dentro de suas jaquetas seus binóculos de longo alcance. Desta forma se confundiam com a massa de soldados.

Alimentação -  Numa situação de abastecimento normal, a alimentação do soldado alemão era a seguinte: ao amanhecer tomava a primeira refeição do dia, chá ou café acompanhado por um sanduíche de pão de centeio, manteiga e presunto. Ao meio-dia, comia uma comida quente, geralmente o Eintopf (panela comum). Consistia num guisado de carne, batatas, verduras e às vezes uma mistura de aveia que se cozinhava numa marmita ou na cozinha ambulante. Era levada até as posições da frente em recipientes de 30 litros (para 20 homens) e ali se tornava a esquentar. Ao anoitecer, comia-se pão, manteiga, queijo ou salchicha, e ás vezes, o resto do Eintopf. A ração diária do soldado incluía seus cigarros. O exército alemão utilizava um só tipo de ração alimentar para chefes, oficiais e soldados. Os chefes contudo, recebiam uma maior quantidade, entre 3 e 20 rações, segundo sua hierarquia, para atender aos visitantes do comando.

Condecorações - No decorrer da Segunda Guerra Mundial, a Wehrmacht concedeu as seguintes condecorações: 1. Cruz de Ferro, de primeira e segunda classe; 2. Cruz alemã de ouro, outorgada a cerca de 3.000 oficiais e soldados; 3. Cruz de Cavaleiro da Cruz de Ferro, concedida a um número que oscila entre 1.500 a 3.000 homens; 4. Folhas de carvalho para a Cruz de Cavaleiro, 250 a 300 condecorações; 5. Folhas de carvalho com espadas, entre 80 a 100; 6. Folhas de carvalho, com espadas e diamantes, umas 30.

Castigos - Por transgressões disciplinares menores, os soldados recebiam penalidades leves, dentro de suas unidades. Por faltas graves, como covardia em ação de guerra, desobediência, pilhagem, etc., os infratores, no início da guerra eram fuzilados os castigados com vários anos de trabalhos forçados. Posteriormente, a falta de soldados fez com que os réus fossem incorporados, por um período de 6 meses a dois anos, nos denominados Batalhões de Castigo. Essas unidades eram comandadas por chefes e oficiais extremamente enérgicos, que impunham um regime de severíssima disciplina. Todas as missões perigosas, difíceis ou repugnantes, eram executadas, em primeiro lugar, pelos Batalhões de Castigo. Assim, era freqüente que essas unidades perdessem em combate mais de 50% do seu pessoal.

 

 

A pena de morte

Quando um soldado ofende a honra do Exército com uma conduta infame, e quando seu comportamento ocasiona a morte de seus companheiros, o Código Militar é inflexível. Geralmente, a pena de morte é a regra. Sobre isso von Manstein disse que, nos casos em que conselhos de guerra condenaram à pena capital a alguns de seus soldados, sempre estudou, individual e detidamente, o processo e o soldado. Relata nas suas memórias, precisamente, o episódio de um soldado condenando à morte por um conselho de guerra, por ter, inexplicavelmente, dominado pelo pânico, fugido, abandonando seus companheiros, que pereceram por esse motivo. Diz Manstein que esse soldado, condecorado anteriormente com a Cruz de Ferro, merecia uma oportunidade. E foi ele mesmo quem a deu. Com efeito, depois de conseguir o adiamento da execução da pena por 4 semanas, informou ao condenado que salvaria sua vida se demonstrasse sua coragem e renúncia frente ao inimigo. Relata, em seguida, que essa técnica, empregada em diversas oportunidades, deu sempre o resultado procurado e somente numa oportunidade, um soldado, submetido a essas condições, fugiu, passando para o lado inimigo.